Você tem medo da loucura?

O que é loucura?

Acho que essa é uma reflexão importante e interessante. Então vamos lá. Talvez você pense que a loucura é aquela pessoa na rua que anda falando sozinha e que perdeu muito do contato com a realidade. Mas você sabia que pessoas com demências também passam pelo processo de perder o contato com a realidade? Você chama essas pessoas de loucas? Talvez. Mas não costuma acontecer. Você sabia que pessoas diversas eram presas em manicômios, inclusive pessoas que não tinham essa perda de contato com a realidade? Pois é. Aqui, não quero trazer a história dos manicômios e nem a história da loucura, porque o que quero é fazer uma reflexão mais direta e sucinta. Mas eu mesma já escrevi sobre isso, caso queira, leia meu trabalho que foi publicado na revista da FAE “Esquizofrenia para além da patologização”.

O louco é você que tem crises de ansiedade, é você que é autista, é você que está deprimido, é você que convive com a bipolaridade, é você que tem TOC. O louco não tem somente uma face, ele tem muitas e você pode ser o louco. Talvez se você tivesse nascido em outra época, você estaria em um manicômio, preso. O louco não está super distante de nós. Ainda hoje, muitas pessoas dizem ter medo da loucura, mas a loucura está aí, o tempo todo, você só não sabe que o que achamos normal (no sentido de comum) hoje, foi a loucura de outrora.

A essa altura você pode estar pensando “não, mas eu tenho medo de loucos perigosos, daqueles loucos que matam, que agridem, que cometem crimes”. Mas essa também é uma ideia construída a partir de equívocos e preconceitos. O estudo “The link between mental health, crime and violence” trata sobre essa questão, existem outros, caso você tenha curiosidade, basta buscar sobre e se souber ler em inglês, melhor. A ideia de que uma pessoa dita louca é perigosa e vai cometer crimes por essa razão, não é real. Sim, uma pessoa com algum transtorno mental pode cometer crimes, mas uma pessoa sem nenhum diagnóstico ou nenhum traço de ter um transtorno mental, também. E não existem dados que demonstrem que os loucos cometem mais crimes, pelo menos eu nunca encontrei dados que afirmassem isso, mesmo com muita leitura sobre o tema.

Estigma!

Então a verdade é que a loucura ainda é estigmatizada e tratada com preconceito e até desprezo. Fingimos que não, que hoje existe respeito e acolhimento, mas não é por aí. Estamos melhores do que já estivemos? Com certeza. Mas ainda não chegamos no ideal. Ainda ouvimos dizer que ansiedade é frescura, que depressão é bobagem, que quem tem borderline, na verdade só é mau caráter, que quem faz uso abusivo de drogas e álcool é sem vergonha. Talvez até você já tenha falado uma dessas coisas. E lembra o que eu disse lá atrás, a loucura tem muitas faces, tudo isso que citei poderia ser compreendido como loucura. E sabe o que é pior? O preconceito aumenta o sofrimento de quem já está sofrendo.

Concluindo…

Mas para finalizar, eu quero dizer para você não ter medo da loucura, nem da sua própria. Muito já se avançou no que diz respeito a tratamentos. Existem transtornos de difícil tratamento, mas temos muito mais ferramentas disponíveis. Então o importante é buscar tratamento, buscar ajuda e não taxar a loucura como um problema que deve ser ignorado ou isolado. E sim, pode ser que você sofra muito com a sua loucura ou com a de alguém próximo, não estou dizendo que a loucura (seja qual for) seja fácil de lidar, estou apenas dizendo que olhar para isso com respeito e sem as amarras do preconceito, é mais interessante e eficiente. E pode ser ainda, que você não possa fazer muito pelo outro, porque você não pode escolher pelo outro, mas se a loucura for sua, busque ajuda e cuide-se. Jamais romantizei ou irei romantizar a loucura, que pode causar dores e prejuízos, mas também não irei tratar isso como o fim da linha, porque não é, mesmo em casos graves. Eu conheci pessoas com esquizofrenia que viviam sem que ninguém soubesse da condição deles, somente as pessoas próximas. Porque eram pessoas que davam aula, que estudavam, que se casaram, tiveram filhos, trabalhavam, palestravam.

Cuide-se, busque ajuda, entenda e trate da sua loucura!